segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Homem soterrado em poço no Pará diz que nasceu de novo


dsc_0016“Renasci aos 50 anos”. A frase traduz a alegria de Raimundo Lima, de 50 anos, após voltar para os braços da família depois de quase perder a vida soterrado dentro de um poço de 18 metros de profundidade. O acidente ocorreu no município de Mojuí dos Campos, no dia 2 de dezembro. Lima  entrou em um poço para fazer manutenção e após um deslizamento de terra nas laterais, ficou soterrado por aproximadamente 12h. Na manhã desta segunda-feira (5), ele recebeu a visita da médica e dos militares que participaram do resgate e aproveitou para agradecer aos heróis daquela operação.

dsc_0008Ao lado da esposa e dos filhos, Raimundo relembra os momentos de dificuldade que passou no poço. Ele relata que ao fazer a manutenção percebeu que uma tábua obstruía o local. Foi então, que decidiu fazer a remoção manual do objeto e durante a ação, uma das paredes cedeu e o deixou soterrado completamente. “Quando a terra me cobriu todo eu pensei que não teria mais jeito e que iria morrer. Mas, me mantive em paz, na presença de Deus e foi o que me deu forças. O homem faz o que pode e Deus trabalha no impossível. Acredito que tanto a equipe quanto Deus me ajudaram e por isso eu estou aqui”, ressalta

Aflição da família
Rapidamente a notícia se espalhou pela comunidade que não mediu esforços para ajudar. Enquanto aguardavam notícias e o socorro, familiares aflitos chegaram a duvidar que o episódio tivesse um final feliz. Liduína Oliveira, esposa de Raimundo, em meio as lágrimas tenta expressar o alívio de ver o marido salvo. “Foram horas de sofrimento sem saber o que seria dele. Meu irmão foi até o local e veio me dizer que ele estava na cacimba só com o nariz de fora e aí, passou pela minha cabeça que iria morrer pelo tempo que ele ficou lá. Quando eu vi ele de novo, meu coração ficou muito alegre”, diz a esposa emocionada.dsc_0013
Resgate de alto risco
Sobre o trabalho da equipe, Raimundo ressalta a eterna gratidão a quem trabalhou incansavelmente para que ele renascesse aos 50 anos. “Agradeço muito a equipe que fez o resgate foram pessoas que me fizeram nascer de novo. Pessoas que trabalharam corretamente e quando eles me puxaram, eu senti a maior alegria da minha vida, pois eu sabia que estava livre. Sei que quando acontece algo assim e eles conseguem tirar alguém com vida é mais uma vitória para eles. A partir de agora, vou ter duas datas para comemorar. O nascimento mesmo e o dia do resgate. É muito bom nascer de novo aos 50 anos e poder daqui para frente contar essa história”.

Apesar de ter sido montada uma estrutura para evitar novos desmoronamentos e garantir a ventilação do espaço devido a existência de gases, havia muita dificuldade para retirar areia do local. Era uma ocorrência com elevado grau de risco e envolveu 22 militares. “O que a gente observou, ele estava bem psicologicamente e o fato de não estar apavorado ajudou bastante. O vigor físico dele, uma pessoa de 50 anos que está bem de saúde também contribuiu, além de que a nossa equipe fez questão de transparecer a ele em cada momento que tudo estava sendo feito da melhor forma possível para que ele fosse resgatado”, relata o tenente coronel Luís Cláudio Rêgo, comandante do Corpo de Bombeiros.
   
Segundo Luís Cláudio, há 20 anos uma mesma ocorrência envolvendo resgate em um poço não teve tanto sucesso. O fato marcou a guarnição e o comandante, por isso, retirar seu Raimundo com vida passou a ser uma questão de honra. “A preocupação de toda instituição era de que não ocorresse a mesma situação que ocorreu há mais de 20 anos. Naquela ocasião, infelizmente não obtivemos sucesso em resgatar esta pessoa com vida. Diante da nossa experiência, desenvolvemos toda uma estrutura para viabilizar esta operação que era de alto risco, uma vez que a qualquer momento poderia cair material não só em cima do seu Raimundo como também nos militares, que tiravam areia balde por balde do local. Aos poucos conseguimos livrar sua parte superior, os membros e até sua retirada com vida".

A médica Ilmara Sousa, também esteve no local com uma equipe de socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Ela relata os momentos em que esteve com a vítima e o trabalho para mantê-lo consciente. “Em uma das descidas, uma das pedras acabou rolando em direção ao rosto dele. Neste momento ele me pediu que eu não o deixasse morrer. Foi quando coloquei o pé e acabei me machucando. Se ela pegasse no rosto dele, com certeza, aconteceria o pior. Durante todo tempo ele se manteve sereno e dizia que estava respirando e bem, relatando dores no pé esquerdo. Em vários momentos achamos que iríamos perdê-lo, mas Deus nos deu força e sabedoria para cada um poder ajudar ele a conseguir esta vitória”, afirma.dsc_0004Recomeço
Apesar do susto e contrariando a esposa, ele afirma não ter a intenção de abandonar a profissão. Mas, garante que deve atuar com mais cautela, observando com mais rigidez as exigências de segurança. "Eu tenho que superar o medo e voltar. Agora, eu preciso analisar bem o risco para não ocorrer mais isso. Minha família depende de mim e não tenho outra profissão. É arriscado, mas a gente tem que continuar".

Nesta segunda chance que ganhou, Raimundo fez a promessa de não medir esforços para realizar o sonho do filho mais novo, Messias, de apenas 5 anos, que pretende ser bombeiro e assim, quem sabe, salvar outras vidas. “Minha missão agora é fazer meu filho crescer e estudar para quem sabe um dia entrar pro Corpo de Bombeiros. Espero que ele seja da nova geração daqueles que salvam vidas”, conclui Raimundo.

G1 – Santarém

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