O texto abaixo foi enviado pelo Bombeiro do Rio de Janeiro André Schirmer e extraído do Blog do Coronel Paúl. Mais que uma homenagem, um desabafo e o sentimento de todos nós Bombeiros...
Senhores, mais uma vez o dever nos chamou para amenizarmos a dor de diversas pessoas que perderam seus entes queridos, que perderam toda a referência de uma vida que tiveram e até mesmo para salvarmos suas vidas, pois muitas vezes quando suas esperanças já estavam chegando ao fim junto com a força para se agarrarem a um último suspiro de de vida do qual elas já haviam desistido, eis que surge a mão salvadora de um bombeiro para renovar-lhes as esperanças e elas terem certeza de que não era a sua hora.
Porém, dessa vez pagamos um preço mais alto, não perdemos folga somente, não perdemos apenas algumas noites de sono, não deixamos somente nossos familiares preocupados, dessa vez, tivemos a dura tarefa de resgatar alguns dos nossos. Três companheiros (2º Sgt BM Marco Antônio Verly da Conceição, Sd BM Vítor Lembo Spinelli e Sd BM Flávio Vanderson R. de Freitas) que se foram tentando cumprir sua missão, três vidas que tinham valor para muita gente, seus companheiros, seus familiares e principalmente para suas mulheres e filhos.
Tenho certeza de que eles não se preocupavam com a morte, principalmente nestas circunstâncias, a maioria de nós não se preocupa, senão, não seríamos bombeiros ou policiais ou exerceríamos algum tipo de profissão que nos trouxesse algum risco.
Na maioria das vezes a primeira preocupação é com o cumprimento da missão, somos condicionados a isso desde os primeiros dias de treinamento, onde aprendemos também a ser cautelosos, mas diante dos riscos que enfrentamos, nossa cautela somente minimiza e não anula completamente os riscos e quando a fatalidade acontece, só nos resta saber que estavámos cumprindo ou tentando cumprir a nossa missão.
Ao ler as linhas acima, alguns podem achar que estou sendo extremamente embusteiro ao afirmar que não temos preocupação com a morte, mas tentarei esclarecer melhor tal afirmação.
Mais preocupados nós ficamos é com a situação de nossa família se formos embora, ficamos pensando que se a situação já está como está com a nossa presença, trabalhando em dois e ás vezes em até três empregos (um ou dois bicos), como será que ficará nossa família caso aconteça alguma coisa conosco?? Por isso que creio e afirmo que maior do que nossa preocupação com a morte é a preocupação com as consequências que tal ausência traria.
Por conta disso é que me peguei perguntando, no momento em que soube da situação dos companheiros, como ficaria a situação de suas famílias. E me peguei pensando assim porque poderia ser a minha ou a sua família, pois esses companheiros poderiam ser qualquer um de nós.
Mudando de assunto, mais uma vez mostramos para um governo que nos menospreza o valor dos homens e mulheres de nossa Corporação, mostramos que não somos mercenários, que reivindicamos salários dignos, que lutamos por melhorias, mas que mesmo ganhando o que ganhamos não nos esquivamos da nossa missão e a cumprimos mesmo com o SACRIFÍCO DA PRÓPRIA VIDA, como dessa vez aconteceu.
Não acredito que seja agora que o Governador reconheça o nosso valor, pois o que estamos fazendo, já fizemos e faremos muitas e muitas vezes, na maioria delas longe dos holofotes da mídia, de forma anônima, pois não somos movidos pelo dinheiro mas sim pela necessidade de ajudar aqueles que estão precisando, num momento de desespero.
Parabéns aos irmãos que estão empenhados nos trabalhos de resgate desde o começo. Vamos fazer valer o sacrfíco daqueles companheiros que se foram.
Segue abaixo uma homenagem a vocês.
É ISSO QUE NÓS FAZEMOS!!!
CABO ANDRÉ SCHIRMER
BOMBEIRO MILITAR DO RIO DE JANEIRO